Força explosiva e agilidade:
Embora não seja a valência física mais importante do corredor fundista, a potência muscular influencia no rendimento global do atleta porque tem a ver com o sustento da velocidade final. Como já vimos em matérias anteriores, potência e velocidade estão intimamente ligadas, uma vez que, por definição, potência é igual à força x velocidade. No treinamento de cross, a transposição de obstáculos, como troncos de árvores e pequenos riachos, que obrigam o atleta saltar, estimula o desenvolvimento da força explosiva. Na prática, em determinadas corridas de rua não é raro o uso dessa valência quando o corredor tenha que se desvencilhar de pequenos obstáculos como saltar para a calçada e voltar para a pista de rolamento, saltar sobre buracos na pista, acelerar para passar na frente de alguém ou até mesmo desviar de transeuntes.
Força resistente:
Hoje a maioria dos treinadores concorda com os benefícios que a corrida em ladeira proporciona, principalmente no que diz respeito ao fortalecimento das pernas usando apenas o peso do próprio corpo. Esse fortalecimento não fica restrito às pernas. Todo o sistema cardiovascular se beneficia também, traduzido pelas freqüências cardíacas máxima, mínima e de repouso facilmente comprovado. Na prática, são poucas as provas que não tenham ladeira e muitos os atletas que reclamam delas, geralmente aqueles acostumados a treinar apenas no plano, criando uma falsa idéia que estão bem.
Velocidade plena
Pela lei da natureza tudo que sobe, desce. Se por um lado correr na descida favorece o desenvolvimento da velocidade, ritmo e equilíbrio, em contrapartida só se deve aproveitar a descida se estiver bem preparado para isso, com um treinamento adequado. Por conta do impacto muito maior que três vezes o peso corporal, correr na descida pode gerar problemas de joelho, panturrilhas e toda a musculatura posterior da coxa muito solicitada nessa atividade. Por isso, no início do treinamento de cross country, as descida, como são inevitáveis porque elas estão lá, devem ser feitas com muito cuidado sem nenhuma preocupação de melhorar a velocidade. Suba o mais rápido possível e desça devagar.
Coordenação motora
Essa valência física é estimulada o tempo todo durante o percurso porque é impossível correr sem olhar para o chão sempre irregular. No início, as chances de torções de tornozelo são maiores, mas com o tempo o corpo começa a estimular o mecanismo reflexo e o pé já não vira com tanta facilidade. Além disso, essa irregularidade do piso acaba desenvolvendo os menores músculos do pé e os profundos da perna (que ficam por baixo dos mais conhecidos e/ou entre os ossos) proporcionando mais estabilidade no gesto esportivo.
Ritmo
Essa é uma palavra que faz parte do vocabulário do corredor, mas que poucos conseguem aplicar na prática. É comum ao final de uma prova os corredores comentarem que fizeram "tantos minutos por quilômetro". Na verdade dividem o tempo pelos quilômetros da prova, mas não fizeram a média em toda a corrida. A maioria sai mais forte do que chega, exatamente porque treina assim. O treinamento moderno e que dá confiança ao atleta é dividir a prova em três terços. Largando com certa tranqüilidade, entrar no ritmo proposto no segundo terço e se possível até aumentar no terceiro. Como geralmente um percurso de cross se monta num traçado de dois a quatro quilômetros, é muito fácil treinar ritmo fazendo passagens progressivas, mais rápidas. Além do mais, isso permite começar fraco, para melhor dominar os obstáculos, escolhendo a melhor técnica de transposição de cada um. Outro fato interessante é que, por melhor ou pior que seja o percurso no conceito de cada um, sempre aparecem um ou mais trechos interessantes, que permitem aumentar a velocidade ou que cada corredor tenha mais domínio.